sexta-feira, 30 de maio de 2008

Pilar II - Processos

O primeiro pilar trazido à discussão - Pessoas - jamais será um assunto plenamente discutido. Acredito ter exposto questões fundamentais para melhorar o aprendizado da organização.

Vamos pensar agora nos processos importantes para esse crescimento.

Evidentemente, toda experiência provoca a modificação do estoque de conhecimento em nível pessoal. Para uma entidade composta de diversos indivíduos (atuadores), porém, registrar qualquer experiência é inviável, pois exige esforço para registro de eventos irrelevantes ou repetitivos e para a recuperação sobre um estoque demasiadamente extenso de informações. Então, é necessário reconhecer que eventos são realmente relevantes, para registrar e permitir a recuperação de informações que agreguem maior valor.

Além disso, como as pessoas não possuem uma especialização tão restritiva como os órgãos, eles devem ser observados diante do papel que realizam em cada experiência registrada. Em outras palavras, a participação do atuador deve ser categorizada diante do papel que ele exerceu no evento.

Fazendo uma analogia, para usar um martelo, o cérebro deve recuperar a experiência apenas do braço (atuador) - esquerdo ou direito, indiferentemente - para que o outro braço possa realizar o movimento recuperado, atingindo o objetivo desejado.

Sem me delongar muito nesse preâmbulo, identifico alguns pontos dignos de registro na mente organizacional ("hipercortex" definido por Levy em seu livro Tecnologias da Inteligência) em uma entidade de desenvolvimento de software:

  1. Lições Aprendidas
  2. Riscos de Projeto
  3. Análises de Decisão
  4. Componentes
  5. Competências
Os 3 primeiros itens tratam de EVENTOS experimentados durante o desenvolvimento do projeto. Componentes, embora decorrentes da consecução de eventos no projeto, são produtos que podem ser recuperados para reuso.

O último item merece uma observação, por destacar-se dos demais. Para ativar o atuador correto, uma mente precisa saber as capacidades e a identidade de cada um deles. Isso ocorre tanto no corpo - a mente precisa saber o que é um braço e do que ele é capaz - quanto em uma organização. Então, é preciso saber (ou estar disponível) quem sabe fazer o que - por isso as competências devem ser registradas.

Voltaremos a tratar desse assunto - e demais pontos - nos próximos tópicos.

domingo, 11 de maio de 2008

O pavor da língua Portuguesa

Ainda falando sobre o aspecto Pessoas, gostaria de falar um pouco sobre um fenômeno que tenho observado nas pessoas que trabalham com desenvolvimento de sistemas. A maioria não tem paciência ou conhecimento na língua portuguesa - raros são os que prezam pelo desenvolvimento dos textos que servem principalmente para a Gestão do Projeto, Elicitação de Requisitos e Comunicação interna da equipe.

Esse pavor afeta as duas extremidades da comunicação (emissor e receptor). O primeiro, por não querer elaborar um bom texto, capaz de ser compreendido por qualquer leitor, tende a transformar todo texto produzido em tabelas ou itens. Essa "solução" promove edição e leitura rápidas, mas esquece o principal objetivo da comunicação - o entendimento.

Isso nos remete ao pavor que o leitor tem. Ele normalmente não quer aprender. Ele espera que o texto traga uma solução pronta, tal qual um componente buscado na internet. Não podemos esquecer, no entanto, que nem esses componentes são 100% aderentes aos nossos problemas - precisamos compreendê-los para saber como aplicá-los (ou alterá-los), tornando-os ideais para a resolução de nossos problemas.

Esse pavor do leitor "casa" perfeitamente com o do autor, pois a redução de tudo a tabelas ou listas permite rápidas edição e leitura. Ao ler esse texto (se é que podemos chamá-lo assim), o leitor assume que entendeu a realidade. No entanto, ele não possui o contexto em que aquele arremedo de texto surgiu, pois a coesão e a ambientação são elementos desprezados pelo autor. Em outras palavras, o lido não corresponde ao escrito - mas todo mundo acha que está tudo bem.

Ao aplicar o resultado desse processo de comunicação truncado e idiotizado pelo reducionismo radical, o leitor não adquire o discernimento necessário para flexibilizar a [suposta] solução ao seu problema atual - ou pior, para replicar essa flexibilização em problemas futuros, diferentes (em sua essência) do atual.

Resta então o apelo que sempre faço: vamos lembrar das lições do ensino fundamental/médio e escrever textos coesos, com início, meio e fim e que agreguem valor ao leitor, promovendo seu aprendizado e não apenas "empurrando-lhe" uma espécie de fórmula que não poderia (na maioria absoluta dos casos) ser generalizada. Não se trata de falar difícil, usando vocabulário obscuro, mas de escrever algo que traga crescimento ao leitor.